A Associação Portuguesa de Nutricionistas entende que no próximo Plano Nacional de Saúde dever-se-ia dar maior enfoque à nutrição, visto ser uma área determinante para a promoção da saúde e para o tratamento de diversas doenças. Assim, deixamos os seguintes contributos:
- Avaliação e monitorização através da aplicação do inquérito alimentar/nutricional nacional à população, com uma periodicidade de 10 em 10 anos (de 5 em 5 anos fazer uma sub-amostra em conjunto com o inquérito às despesas das famílias); por inquérito quantitativo às 24h anteriores dentro e fora de casa e avaliação do estado nutricional;
- Avaliação dos indicadores salutogénicos no primeiro contacto nos cuidados de saúde primários (CSP);
- Avaliação do risco nutricional na admissão hospitalar e monitorização durante o período de internamento;
- Vigilância dos desperdícios alimentares resultantes dos hábitos de consumo dos cidadãos;
- Integração de nutricionistas para um trabalho eficaz nos diversos serviços de saúde (1/20.000 utentes nos CSP; 1/100 camas nos cuidados de saúde secundários e terciários);
- Concepção e implementação de programas que promovam o empoderamento das populações na área da alimentação e nutrição, capacitando-as para opções alimentares mais saudáveis;
- Desenvolvimento e implementação de programas intersectoriais de educação alimentar no âmbito da promoção da saúde;
- Implementação de programas de promoção do consumismo alimentar;
- Vigilância da minimização de perdas nutricionais promovendo boas práticas de preparação e confecção de alimentos em contexto de alimentação colectiva;
- Desenvolvimento e promoção das competências dos manipuladores de alimentos como garante de uma alimentação segura;
- Desenvolvimento e promoção de programas de intervenção nutricional em grupos mais vulneráveis, nomeadamente grávidas, crianças, adolescentes e idosos;
- Desenvolvimento de acções de promoção do aleitamento materno exclusivo até, pelo menos, aos 6 meses de vida;
- Dotação de equipamento condigno e adequado para a prática de consulta de nutrição nos CSP e hospitalares, incluindo software específico;
- Participação de nutricionistas nas políticas alimentares e nutricionais comunitárias;
- Participação de nutricionistas na regulamentação de Unidade de Recursos Assistenciais Partilhados e outros documentos nos quais os nutricionistas sejam alvo.
Como cidadâ e Nutricionista considero de grande importância a integração dos nutricionistas quer na educação alimentar para a prevenção, ao nível dos cuidados primários para tratamento primário de doenças tão prevalentes como a Diabetes ou Obesidade, quer nos hospitais para a intervenção em cuidados diferenciados. De notar que a Diabetes e a Obesidade (para só mencionar as que mais têm vindo a crescer) têm sido destacadas em anteriores programas de saúde. No entanto, e apesar da actuação dos nutricionistas nestas áreas ser considerada crucial, estas duas doenças (entre outras) continuam sem o devido acompanhamento nutricional. Bastará tão somente pensar na falta destes profissionais quer nos hospitais quer nos Centros de Saúde.
É de estranhar que o programa de tratamento cirúrgico da Obesidade esteja a avançar e ainda não haver consultas de Nutrição em muitos Centros de Saúde. Como podem essas pessoas serem submetidas a uma cirurgia sem terem a oportunidade de fazer uma dieta devidamente orientada?
E o que pensar dos milhares de pessoas com Diabetes que passam anos e anos sem terem uma orientação da sua alimentação?
Penso que, se não houver recursos para mais, é importante que os nutricionistas possam, pelo menos, garantir o acompanhamento às pessoas com Obesidade e Diabetes. Este apoio deverá ser devidamente contratualizado com o objectivo de conseguir ganhos em indicadores de saúde, tais como a melhoria do controlo da Diabetes ou a redução na taxa de Obesidade numa população.
Afinal estas são as principais causas de Doenças Cardiovasculares e de perdas de saúde traduzidas em custos elevados que pagamos no futuro com juros.
Prevenir é importante; A nutrição é prevenção!