Torna-se fundamental dar cada vez mais relevância e destaque ao papel dos psicólogos nos cuidados de saúde primários, se queremos ter ganhos em saúde! Não nos podemos esquecer que a maioria das metas a atingir, dizem respeito a mudança de comportamentos! sabemos que grande parte das doenças que são hoje uma prioridade no nosso Plano Nacional de Saúde, são doenças associadas muitas vezes a determinados comportamentos e como tal, não se conseguem mudar comportamentos simplesmente com a informação, como nos deparamos sistematicamente! A pessoa não muda de comportamento só porque o médico lhe diz que tem de o fazer!
Então, se o comportamento e as mudanças comportamentais são uma das grandes prioridades, e se o psicólogo é o especialista em comportamento… então como podemos atingir tais metas, se continuamos a não apostar na Psicologia?
Numa área como a das doenças cardiovasculares,por exemplo, não podemos apenas incluir o médico e enfermeiro, quando queremos mudar comportamentos dos utentes…
Como podemos querer ter qualidade nos serviços, quando outros técnicos (nomeadamente enfermeiros) continuam a afirmar que também fazem de psicólogos e que têm formação, etc.. e que por isso podem ser eles a fazer os programas, projectos, sem a intervenção do psicólogo????
Mas e como é possível atingir os objectivos, quando na sua maioria os Centros de Saúde têm apenas 1 psicólogo?
É preciso haver grandes mudanças de mentalidade, deixarmos de andar às guerras de poder (cada um com a sua competência), e deve haver directrizes bem definidas sobre quais os técnicos indispensáveis em cada uma das áreas e indicadores.
Não basta fazer um plano de acção, é preciso criarmos as ferramentas para poder pô-lo em prática!
Os técnicos de saúde mental e em particular os psicólogos são absolutamente necessários em todos os níveis de cuidados de saúde. São necessários no ensino, no ensino básico em particular (para trabalhar com os professores e outros funcionários, para trabalhar com os pais,é gritante essa necessidade aqui também; podem dizer que estão lá os psicólogos mas em numero tão, tão reduzido que é impossível chegar a fazer prevenção e ainda menos logo no 1º ano de escolaridade).
Eu considero que no nosso país ainda se valoriza pouco a saúde mental, porque se investe pouco na prevenção que deve ser cada vez mais precoce o que levaria a menos gastos em saúde. Cada técnico tem o seu olho clínico para identificar os sinais e estabelecer um plano de actuação.Eu sou enfermeira trabalho num serviço de Pediatria.
Sem prejuízo da multidisciplinariedade dos cuidados de saúde primários e da relevância dos psicólogos e profissionais de áreas “não-médicas” (como é o caso dos sociólogos e até dos geógrafos) na identificação e gestão dos problemas de saúde em contexto comunitário, parece-me redutor – e até contra-indicado do ponto de vista da resolução daqueles problemas – “departamentalizar” os cuidados de saúde primários em cuidados médicos (físicos) e cuidados mentais/comportamentais – os primeiros a cargo dos médicos e os últimos a cargo dos psicólogos.
O médico de família é, acima de tudo, um “integralista” – isto é, aborda o utente de forma integrada, como um todo físico, mental e social. Ao abdicar da vertente mental e psíquica do seu utente, o médico de família estaria a abdicar de uma visão holístico-humanista e a retornar a uma visão mecanicista dos cuidados de saúde.
Existe evidência científica abundante relativamente ao facto de que a procura de cuidados (médicos) de saúde é, muitas vezes, ditada por razões puramente psico-sociais, sendo que o utente continua a persistir nessa procura (hiper utilização) até ver satisfeita essa necessidade (psico-social) pelo seu médico de família.
Por outro lado, a adesão a determinados comportamentos (caso da vacinação) tem como preditor mais importante a recomendação do médico assistente.
Em suma: psicólogos, médicos, enfermeiros, sociólogos e outros profissionais têm um papel a desempenhar no sistema de saúde, detendo o cidadão (auto-prestador na saúde e na doença) o papel mais importante de todos.
Como médico especialista em saúde pública reconheço o papel de todos estes actores, fundamental aos ganhos em saúde que se pretendem. No entanto, reconheço, igualmente, o papel do médico de família como prestador de cuidados integrais em contexto familiar e comunitário.