No dia 16 de dezembro de 2021, 8 meses após o momento censitário (19 de abril), o INE divulgou os Resultados Provisórios do XVI Recenseamento Geral da População e VI Recenseamento Geral da Habitação – Censos 2021. Os Resultados Provisórios constituem uma fase intermédia do processo de tratamento e validação dos dados que, apesar do seu carácter provisório, permitem obter informação censitária de elevado interesse disponibilizando 17 indicadores estatísticos relativos a edifícios, alojamentos, agregados e indivíduos, desagregados até ao nível geográfico de freguesia. A informação fornecida pelos Censos constitui uma importante base para a atuação dos profissionais de saúde, em particular no âmbito da saúde pública.
Dos Resultados Provisórios dos Censos 2021 destaca-se:
- A população residente em Portugal, em 2021, foi de 10 344 802 habitantes, representando um decréscimo populacional de 2,1% desde 2011. Verificam-se diferenças importantes entre as regiões administrativas:
- A região que sofreu uma maior diminuição da sua população residente foi o Alentejo (6,9%)
- A região que viu a sua população residente crescer de forma mais significativa foi o Algarve (3,7%).
- Apenas 2 regiões viram a sua população residente aumentar, nomeadamente o Algarve (3,7%) e a Área Metropolitana de Lisboa (1,7%).
- Na análise por grupos etários, apenas o grupo dos indivíduos com 65 ou mais anos cresceu na última década (20,6%).
- O índice de envelhecimento1 aumentou 42,4% e o índice de dependência de idosos2 aumentou 27,7%.
- Todos os restantes grupos etários sofreram uma diminuição do número de efetivos populacionais.
- O grupo etário dos indivíduos com idade inferior a 15 anos sofreu a diminuição mais acentuada (15,3%).
- O índice de dependência de jovens3 diminuiu 10,3%.
- O nível de escolarização da população residente aumentou.
- O número de indivíduos que não concluíram nenhum nível de ensino diminuiu 24,9% nos homens e 31,3% nas mulheres. No entanto, estes indivíduos ainda representam uma proporção elevada da população (13,7%).
- Ocorreu um aumento acentuado no número de indivíduos que referem ter concluído o ensino secundário e pós-secundário (46,6%) e o ensino superior (44,5%).
- Há mais indivíduos a viver sozinhos.
- O número de agregados familiares com apenas 1 pessoa foi aquele que mais cresceu durante o período intercensitário (18,3%), seguido do número de agregados com 2 pessoas (7,9%)
- Os agregados familiares com 3 ou mais pessoas diminuíram nos últimos 10 anos.
- A população estrangeira residente em Portugal cresceu cerca de 41,0%.
- O aumento da população estrangeira residente proveniente de fora da União Europeia foi de 43,6%, enquanto o aumento de população estrangeira residente proveniente da União Europeia foi de 30,4%
Os Censos 2021 revelam que se agravou o envelhecimento populacional em Portugal, tanto pela base (redução do número de indivíduos jovens), como pelo topo da pirâmide etária (aumento do número de indivíduos idosos).
Este envelhecimento traduz-se numa carga de morbilidade e mortalidade cada vez maior na população residente em Portugal, maioritariamente à custa da maior prevalência de doenças crónicas e as complicações daí decorrentes, pelo que será de esperar uma sobrecarga crescente dos serviços de saúde e mecanismos de proteção social.
O aumento da proporção de indivíduos a viver sozinhos, especialmente quando aliado ao envelhecimento da população, é fonte de preocupação. À luz destes dados, é de esperar algum impacto na saúde decorrente da falta de acesso a cuidados de saúde (incluindo cuidados informais), com impacto tanto a nível da saúde física, como da saúde mental da população.
Nos últimos anos Portugal tem assistido a um aumento das imigrações. É importante acompanhar com especial atenção a saúde dos migrantes, seja no âmbito das doenças transmissíveis, através da implementação do programa nacional de vacinação, ou no âmbito das doenças não transmissíveis, através do acesso a cuidados de saúde preventivos.
É importante destacar o aumento do nível de escolarização da população, que se acompanha de um aumento da literacia em saúde. Espera-se que este aumento se traduza, a médio e longo prazo, numa maior adesão a cuidados preventivos e promotores de saúde, com impacto na prevalência futura das doenças crónicas que mais contribuem para a morbilidade e mortalidade atualmente, como as doenças cardiovasculares ou as neoplasias.
[1] Índice de envelhecimento: Quociente entre o número de indivíduos com 65 ou mais anos e o número de indivíduos com menos de 15 anos.
[2] Índice de dependência de idosos: Quociente entre o número de indivíduos com 65 ou mais anos e o número de indivíduos com idade compreendida entre os 15 e os 64 anos.
[3] Índice de dependência de jovens: Quociente entre o número de indivíduos com menos de 15 anos e o número de indivíduos com idade compreendida entre os 15 e os 64 anos